Forro das Antigas


O tempo urge nas paradas de sucesso. É por isso que quando se lança uma festa Forró das Antigas, não se engane, não se trata de um tributo a Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro ou Trio Nordestino. “Das antigas” remonta a um passado recente, mais precisamente o início da década de 1990, quando a indústria do forró expandiu de vez suas fronteiras e se tornou um dos ritmos mais ouvidos, aqui e no resto do Brasil.

Realizada há cerca de três anos, a festa já passou por cidades como Recife e Juazeiro do Norte, onde reuniu no último fim de semana de agosto um público de 10 mil pessoas. Reunindo as bandas Magníficos, Limão com Mel e Mastruz com Leite, o Forró das Antigas acontece hoje em Fortaleza em dois lugares ao mesmo tempo, na Casa de Forró e no Clube do Vaqueiro.

A produção leva o selo da SomZoom, a empresa que, sob o comando do empresário Emanuel Gurgel, criou as bases para o que viria a ser em poucos anos o boom do “forró eletrônico”. Acrescida de contrabaixo, guitarra e teclado, saxofone às vezes, a receita sertaneja se transformou no símbolo de uma revolução no tradicional ritmo nordestino e na indústria fonográfica da região.

A cadeia produtiva arquitetada por Emanuel Gurgel estendia seus braços pelos vários ramos do mercado fonográfico, reunindo desde estúdios de gravação e casas de show, até rádios e uma editora de músicas, além de, claro, as bandas, dezenas delas, capitaneadas pelo maior sucesso da época: o Mastruz com Leite.

As festas, no início, tinham como principal reduto as vaquejadas por todo o estado, em especial as organizadas pelo próprio empresário em Pentecoste, que reuniam mais de 20 mil pessoas. Foi pensando nisso que a compositora Rita de Cássia escreveu a música que estourou nas paradas de sucesso e embalou toda uma geração de forrozeiros, Meu Vaqueiro, Meu Peão.

Sucesso
A vida de Osório Abreu, 36, foi marcada indelevelmente pela canção Meu Vaqueiro, Meu Peão. A volta hoje ao Clube do Vaqueiro trará lembranças de uma noite decisiva em sua vida, quando a encruzilhada entre o casamento na juventude ou a solteirice prolongada teve seu caminho determinado. 

''Cara, hoje eu sou quem eu sou por conta dessa música”, afirma. Sem nunca ter tangido uma rês que fosse, muitos menos derrubado gado pelo rabo, Osório teve seu desígnio determinado ao arrastar o pé com outra moça que não a sua. A noiva não gostou do cochichado da parceira de dança ao pé do ouvido do seu Osório, aprumou o olhar, reparou que a danada cantava baixinho a poesia de Rita de Cássia e se zangou.

“Ela nunca mais se recuperou disso. Ela trazia essa música como um amuleto da sorte do nosso amor. Era como se eu não fosse mais dela depois disso”, explica Osório, até hoje solteiro, trabalhando na concessionária de carros do pai e frequentador de shows de forró. “Gosto de Aviões, gosto do Forró do Muido, dessas bandas, mas se puder ouvir Mastruz com Leite, não troco por nada”, diz o forrozeiro.

Essa também é a opinião de Vanessa Vasco, 24. A estudante de enfermagem tinha apenas 10 anos quando os principais sucessos do Mastruz com Leite estouraram nas rádios, mas lembra até hoje daquela batida invadindo sua casa enquanto a mãe fazia a faxina e ela fazia hora pra virar moça.

“A primeira vez que eu fui pra um show do Mastruz foi lindo, tinha 17 anos, dancei quase até de manhã. Depois disso nunca perdi mais um show do Mastruz, nem das outras bandas, tipo Limão com Mel, Cavalo de Pau”, relembra Vanessa.

O grupo de amigas já está mobilizado para a festa mais tarde. Vanessa conta que tem algumas que são assíduas nos shows de forró da cidade, mas nunca ouviram essas bandas e estão curiosas pra conhecer. “Eu já disse que elas nunca mais vão tirar essas músicas da cabeça”. Quem duvida?

SERVIÇO

FORRÓ DAS ANTIGAS - Show reunindo as bandas pioneiras do forró eletrônico Mastruz com Leite, Magníficos e Limão com Mel. Hoje, no Clube do Vaqueiro (4º Anel Viário - Eusébio) e na Casa de Forró (Av. José Bastos, 3203 - Rodolfo Teófilo), a partir das 22h30. Ingressos: R$ 20 (segundo lote). À venda nas lojas Esplanada. Mais informações: 3295.1238 . 

Fonte:Jornal O Povo